O Projeto de Fortalecimento da Pró-Reitoria de Extensão (PROEXT) tem como objetivo viabilizar a aproximação entre Universidade e Sociedade e oportunizar a elaboração do conhecimento acadêmico, no âmbito teórico-prático, bem como compreender as necessidades locais, como parte do processo de inclusão e protagonismo dos comunitários na manutenção da sociobiodiversidade e no desenvolvimento sustentável dos territórios.
A PROEXT tem desenvolvido ações de extensão e pesquisa como prática social emancipatória nos territórios do Bailique, Beira Amazonas e Mazagão (Carvão). Esses três grandes territórios, denominados Unidades Territoriais de Extensão (UTEX) – compreendem as áreas prioritárias de ação da PROEXT entre os anos de 2019 – 2021, e foram selecionadas pela maior concentração da população amapaense e a partir de facilidades advindas da assinatura de acordos de cooperação técnica entre a universidade, as lideranças comunitárias e organizações e entidades da sociedade civil.
Confira, a seguir, como se deu a nossa atuação ao longo do ano de 2020:
Início de 2020
Entre os meses de dezembro e fevereiro de 2020, o projeto realizou três oficinas com as populações nos territórios do Bailique, EFA do Macacoari (Beira Amazonas) e EFA do Carvão (Mazagão), sendo uma oficina em cada território, com o objetivo de fazer o levantamento das demandas de cada localidade e, posteriormente, a definição das ações prioritárias para o ano.
Como resultado das oficinas, as principais potencialidades destacadas pelos participantes e comuns nos três territórios foram: as cadeias produtivas de produtos extrativistas, especialmente do açaí e produtos oriundos da floresta (mel, óleos, materiais para artesanato, frutas); a cadeia produtiva do pescado; o capital social e as organizações comunitárias; o meio (floresta e rios) e as atividades culturais e de lazer.
As fragilidades comuns, por sua vez, foram: a precariedade do sistema de abastecimento de energia elétrica; a precariedade dos serviços públicos; a dependência química, especialmente entre a juventude (drogas e álcool); a ausência de saneamento básico (abastecimento de água potável, coleta de lixo e esgotamento sanitário); a necessidade de capacitação para os professores; a necessidade de perspectivas econômicas para a juventude e a sensibilização dos comunitários para as atividades coletivas do território.
Diante dessas potencialidades e fragilidades, a PROEX estabeleceu junto aos comunitários ações prioritárias para o ano, que foram divididas nos seguintes eixos:

E, aí, veio a Pandemia…
A PROEXT optou, junto aos comunitários, por não atuar presencialmente nos territórios. Desse modo, a presença deu-se por meio de diálogos, da construção coletiva dos processos, e do atendimento, dentro das possibilidades da Universidade, às demandas emergenciais das populações, principalmente, por meio da distribuição de cartilhas educativas de prevenção da COVID-19, com embasamento científico e com linguagem acessível às populações tradicionais e extrativistas; a disponibilização de 238 saboneteiras com álcool em gel e mais 400l para reabastecimento; e o atendimento psicossocial aos comunitários.
Mas, mesmo assim, as ações continuaram!
A readequação foi feita de forma conjunta com os comunitários, que assumiram o protagonismo e o compromisso para que as atividades pudessem ser desenvolvidas dentro das expectativas e interesse das populações locais, sem comprometer os objetivos e metas estabelecidos no plano de trabalho. Para isso, cada território manteve uma agenda contínua, com as atividades possíveis de serem executadas por meio de plataformas digitais, conforme decidido pelas lideranças. As ações (em cada território) se deram da seguinte maneira:
Formação para os professores de 6º ano do Ensino Fundamental nos territórios Carvão (Mazagão) e Macacoari (Beira Amazonas)
A formação foi organizada coletivamente via plataforma Google Classroom e sistematizada em 10 encontros virtuais com a disponibilização de materiais pedagógicos, orientação e diálogos contínuos. Os encontros foram divididos em três módulos: 1) compreendendo a escrita dos alunos; 2) diagnóstico da escrita e leitura e 3) prática pedagógica para alfabetização como os alunos.
No primeiro módulo foi discutido, sob a ótica de diversos teóricos (Magna Soares, Emília Ferreiro, Ana Teberosky e Paulo Freire), o universo da leitura e escrita, e em paralelo foram desenvolvidos diálogos teóricos/práticos sobre o processo de alfabetização, a contextualização da alfabetização em sala de aula e as dificuldades e transtorno de aprendizagem na alfabetização.
No segundo módulo, trabalhou-se conteúdos sobre o diagnóstico da escrita e práticas de alfabetização para alunos do Ensino Fundamental Anos Finais em escolas do campo e avaliação em alternância, o que resultou na construção coletiva de um caderno sobre práticas pedagógicas para a educação do campo na Amazônia Amapaense.
O terceiro módulo consistiu na elaboração de jogos educativos voltados à alfabetização de crianças e adolescentes do 6º ao 7º ano do Ensino Fundamental nas EFA’s do Macacoari e Carvão, em uma perspectiva de adequação curricular de forma interdisciplinar e transversal, para atender a realidade dos povos das águas, do campo e da floresta, baseado nos saberes locais.
Devido à pandemia da Covid 19, não foi possível desenvolver a aplicação das atividades práticas nas EFA’s como previsto anteriormente. Logo, esta etapa será desenvolvida no decorrer de 2021, a depender do retorno das atividades educacionais.
Construção e orientação dialógica do Projeto Político Pedagógico das EFA’s do Carvão e Macacoari
A implementação do plano de ação voltado às orientações, construções e atualizações das propostas pedagógicas das EFA’s se deu de acordo com a singularidade e posicionamento das lideranças locais.

A EFA do Macacoari (EFAM) optou por fazer a condução da construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) via plataformas digitais (Google Meet), com reuniões quinzenais com as representações da Associação da Escola Família Agroecológica do Macacoari (AEFAM) e a equipe técnica e pedagógica da EFAM, para definição de estratégias metodológicas e para que a construção pedagógica fosse representativa e significativa para o coletivo; e com reuniões dialógicas para validação e construção da proposta pedagógica da EFAM, bem como para a construção do documento escrito, de acordo com as normativas e legislações da educação brasileira.
Além das atividades remotas via plataformas digitais, foi realizado, presencialmente, um levantamento junto às famílias sobre as expectativas em relação à atuação da EFAM no território, com a participação de onze famílias. As perguntas dos questionários buscaram identificar a satisfação dos pais com a atuação da escola; as dificuldades vivenciadas no acompanhamento dos filhos no período de alternância; as percepções quanto à aproximação com o agroextrativismo que marca essa comunidade; e a participação das famílias na escola.
A construção do PPP da Escola Família Agroecológica do Macacoari (EFAM) foi pautada nas bases filosóficas da Pedagogia da Alternância e da educação freiriana, por meio de uma construção coletiva junto aos atores sociais locais.
Em paralelo à construção do Projeto Político Pedagógico da EFAM, houve a demanda de orientações pedagógicas para adequação das atividades à realidade apresentada pelo Cenário da COVID-19, em que foi feito o estudo de carga horária, disponibilização de professores do programa de voluntários e orientações no processo de condução, tendo como base o fortalecimento da alternância e sua integração com as atividades não presenciais curriculares. Além disso, após a finalização da construção pedagógica da EFAM, verificou-se, junto ao Conselho Estadual de Educação, os elementos necessários para a regularização da Unidade Educacional, assim como, análise jurídica do documento construído.
As ações definidas no PPP da EFAM deverão ser contempladas até 2024, apesar de ter sido priorizado o planejamento de ações para 2021, pois entende-se que a partir da avaliação e monitoramento de um projeto piloto para EFAM possível traçar as ações para os anos subsequentes.
É importante reiterar que a EFAM, compreendendo a importância de um PPP exequível, condizente com a realidade do campo e da necessidade constante de formação continuada da equipe gestora e professores, contará com o apoio e assessoria da UEAP, principalmente no tocante aos aspectos pedagógicos da proposta educativa, bem como dos demais parceiros que incentivam a autoafirmação de uma comunidade sustentável e protagonista de sua gestão territorial e ambiental.
A EFA do Carvão (EFAC), por sua vez, decidiu, em um primeiro momento, que as ações de construção de sua proposta pedagógica deveriam aguardar o retorno das atividades presenciais, contudo, em outubro de 2020 optou por iniciar a atualização e construção de sua proposta pedagógica via plataforma digital, para validação posterior com a comunidade escolar. Em relação a implementação das atividades curriculares por meio do ensino remoto, a EFAC junto a Associação da Escola Família Agroextrativista do Carvão (AEFAC) decidiu pela não implementação, por levar em consideração que que 80% dos alunos não possui energia elétrica e tão pouco acesso à internet e demais ferramentas tecnológicas educacionais. Desse modo, a escola solicitou orientações pedagógicas para a continuidade das atividades educacionais no período de pandemia, de maneira que a alternância pudesse ser fortalecida no território e na formação integral dos educandos. A construção do PPP da EFAC, por sua vez, estendeu-se para o ano de 2021.
Já para atender a Associação Escola Família Agroextrativista do Bailique (AEFAB), considerando que a Escola Família Agroextrativista do Bailique (EFAB) não tinha uma previsão de início das atividades educacionais definida, optou-se por uma agenda contínua e dialógica para construção metodológica de uma proposta pedagógica, fundamentada nos princípios estabelecidos no protocolo comunitário participativo que deu origem a AEFAB e a EFAB.
O processo de construção se deu por meio da plataforma Google Meet, com momentos de diálogos, construção e feedback do que as lideranças locais esperam e entendem como atividades prioritárias para o funcionamento da EFAB. Em seguida, consolidou-se uma proposta preliminar a ser discutida com os associados presencialmente, no ano de 2021.
Formação inclusiva, política e cidadã para a juventude
Em um primeiro momento, foram feitas reuniões com os representantes da Juventude em cada território para definir os encaminhamentos das ações a serem traçadas como prioritárias e viáveis no cenário de pandemia.
Nos territórios do Beira Amazonas (Macacoari) e Bailique, os jovens decidiram coletivamente pela manutenção de atividades formativas via plataforma Google Meet. Enquanto, a Escola Família do Carvão (Mazagão) optou pela não participação, isto considerando que 80% dos alunos(as) não possuem energia elétrica e/ou acesso à internet. Contudo, para 2021, a EFAC sinalizou a participação de alguns jovens com perfil de liderança para continuidade do processo formativo.

No segundo momento, foi realizada uma enquete sobre as temáticas de interesse da juventude e os horários viáveis para a formação, a considerar as singularidades de cada território. Após esta enquete, foi feito o levantamento do perfil socioeconômico e das percepções da juventude em relação ao território do Bailique e Beira Amazonas (Macacoari), via plataforma Google Forms.
As principais qualidades citadas do território foram aspectos relacionados à biodiversidade e à beleza do local, assim como a organização comunitária e a segurança alimentar. Já os problemas citados estão relacionados principalmente a ausência do Estado na assistência básica de educação, saúde e saneamento, a constante falta de energia elétrica, o acesso à água potável, especialmente nas comunidades onde a água do rio fica salobra parte do ano e problemas ambientais.Por fim, a partir da análise preliminar do perfil da juventude, da compreensão de sua percepção e atuação nos territórios, a formação recebeu o nome de “Juventudes Ribeirinhas” e foi realizada por meio de encontros que incluíam a contextualização do tema, a fala do (a) palestrante convidado(a), uma discussão geral e um momento de partilha com o(a) convidado(a).

Curso preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio para os jovens dos três territórios
O Cursinho Pré-ENEM UEAP-EFAs visa contornar as dificuldades de acesso à internet que a população jovem ribeirinha tem, através do ensino com uso de estudos dirigidos. Nesse formato, a UEAP organizou 60 kits pré-vestibular, contendo 7 cadernos (um de cada área temática do ENEM e mais um caderno de exercícios) dos cursinhos pré-universitários da Universidade Estadual Paulista (UNESP), vídeo-aulas fornecidas pelo Centro de Mídias e Educação do Amazonas (CEMEAM/SEDUC – AM) e um cronograma de estudos dividido em 4 módulos, com roteiros de estudos, delimitado em cerca de 4 horas diárias de atividades, incluindo assistir as aulas, realizar leituras, realizar os exercícios propostos e registrar as dúvidas que são tiradas via WhatsApp no momento que o aluno tem acesso à internet.
Como nem todos os alunos têm um computador, a UEAP disponibilizou as vídeo-aulas em DVDs que podem ser assistidos em aparelhos de TV e DVD e ainda disponibilizou para as coordenações das EFAs pen drives com as vídeos-aulas dos módulos. A cada módulo os alunos recebiam um novo DVD e os pen drives eram atualizados. Estas atividades se estenderam até janeiro de 2021.
Cadeia produtiva do pescado
Para esse eixo, foi feito um mapeamento nutricional de aproximadamente 40 pescados e derivados (por exemplo, farinha de piracuí) de comunidades participantes do projeto, com a determinação de parâmetros de umidade, cinzas lipídios totais, proteínas e carboidratos, bem como o valor calórico, de acordo com a legislação brasileira vigente. Em paralelo, foram elaboradas estratégias pedagógicas de orientação para a manipulação e beneficiamento de pescado.

Cadeia produtiva do açaí
Na primeira etapa desse eixo, foi realizada uma avaliação técnica sobre possíveis diferenças entre os tipos de resíduos frescos (recém gerados) estocados, com o objetivo de propor uma destinação mais adequada e sustentável para cada um dos tipos existentes.
Após essa avaliação, foi pensado possíveis aplicações dos resíduos para valorar essa biomassa para torná-la uma matéria-prima para desenvolvimento de produtos regionais, o que consequentemente, contribuirá para a geração de renda para as populações das comunidades dos territórios do Bailique, Beira Amazonas (Macacoari) e Carvão (Mazagão).
Desse modo, os resíduos de açaí que já se encontram acumulados em aterros ou abandonados serão utilizados em aplicações onde o efeito da estocagem (início da decomposição da biomassa) não seja um problema, como, por exemplo, para produção de adubos orgânicos. Por outro lado, as fibras e os resíduos frescos, coletados e secos logo após o despolpamento dos frutos, preservam as propriedades físicas das fibras e, por isso, serão prioritariamente utilizados para o desenvolvimento de produtos compósitos, como, por exemplo, a produção de placas cimentícias.

Com base nos resultados obtidos, foi elaborado um material pedagógico para ser disponibilizado aos comunitários, com orientações e indicativos para o reaproveitamento desses resíduos.
Análise da qualidade da água para consumo humano
Frente aos desafios da pandemia e levando em consideração as medidas de proteção e prevenção da COVID-19, foram definidos os planos de amostragem em parceria com os atores comunitários e parceiros do projeto, em que foi possível obter dezessete pontos de coleta, com um total de 53 amostras, sendo cinquenta do Bailique e três da EFA do Carvão.

As amostras de água foram coletadas em toda a extensão dos Igarapés ou cursos d’água, onde se localizam as ocupações humanas, com espaçamento médio de 100 m entre os pontos, e priorizando pontos de bombeamento de água. Na Escola Família do Carvão foram realizadas amostragens de poços artesianos. E, também foram coletadas amostras de cada residência habitada, após o tratamento usual realizado pela comunidade. Totalizando 53 amostras de água, coletadas em frascos de polietileno estéreis.
Após coletadas, as amostras foram acondicionadas sob refrigeração e transportadas para a embarcação ou para o Laboratório de Química Orgânica e Bioquímica, da Universidade do Estado do Amapá (UEAP), para procedimentos laboratoriais.
Os parâmetros seguidos para análise da qualidade da água baseiam-se na legislação brasileira vigente e permitiram uma avaliação preliminar da qualidade da água de forma satisfatória, todavia há a necessidade de maiores análises físico-químicas. Sendo assim, em 2021, no período chuvoso, será realizada a complementação dos dados de qualidade de água.

Como ação para a melhora da qualidade da água no Bailique, e com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa (FAPEAP) e da empresa Total E&P do Brasil, a UEAP instalou na Comunidade de Franquinho uma usina de tratamento de água adaptada ao tratamento da água do Rio Amazonas, principalmente nos “períodos de lançantes” (água salobra), alimentados por energia fotovoltaica, reduzindo assim os custos financeiros e ambientais.

Já para a melhora da qualidade da água no Carvão, a proposta proposta é o tratamento básico da FUNASA, que consiste em realizar a cloração (hipoclorito) e correção química do pH (barrilha leve) por sistemas automatizados (by pass), diminuindo os riscos de erros por processos realizados por pessoal técnico não especializado.
É importante ressaltar que essas alternativas serão estudadas a partir das análises feitas sobre a qualidade da água nos territórios e de maneira diálógica junto aos atores comunitários para que, desse modo, seja feita uma escolha que considere as condições financeiras da comunidade em relação a manutenção financeira e ambiental dos sistemas propostos. Essas questões serão norteadoras para o plano de continuidade do projeto nos próximos anos.
Próximos passos!
O planejamento feito para o ano de 2020 foi cumprido, mesmo diante das dificuldades impostas pela pandemia. Como consequência dessas ações, o Projeto de Fortalecimento da PROEX, junto às Unidades Territoriais de Extensão e Pesquisa (UTEX), evoluiu para a criação do Núcleo de Desenvolvimento Territorial Sustentável, um espaço de diálogo e valorização de saberes para o desenvolvimento dos territórios amazônicos amapaenses, com ações previstas e em andamento para o ano de 2021.
Para saber mais sobre cada uma das ações desenvolvidas ao longo de 2020, acesse o Relatório do projeto na íntegra em nosso site: https://territoriosamazonicos.com.br/resultados-anteriores/
Nesse link, você também encontra a Cartilha de Dicas para a Proteção contra o Coronavírus, desenvolvida e entregue com e para as comunidades, e o Caderno Pedagógico, elaborado com e para as EFAs, como ferramenta de apoio para a alfabetização e educação no campo.